Nosso grande ex-presidente Juscelino
Kubitschek de Oliveira (JK) era descendente
de cigano?
Afinal, onde está a verdade? Temos grande respeito por
nossos antepassados e não entendemos porque em certas
condições baixam uma cortina de silêncio e se recusam a
falar sobre um tema tão relevante: nossa genealogia. No caso
de JK não se consegue ir além de seus bisavôs. Por quê? Será
desonra ser descendente de cigano? JK nunca se pronunciou a
respeito, sua família também não. Achamos que este é o
momento oportuno de deslindar esta questão. Confesso desde
já não trazer novidades, meu interesse maior é que os
historiadores e familiares façam um definitivo
esclarecimento. Aqui vamos registrar apenas o que muitos já
disseram e apresentaram indícios de que nosso JK e grande
presidente tem raízes na antiga Tchecoslováquia (hoje
República Checa), lá em Trebon. Então vamos aos que tiveram
coragem de emitir opiniões sobre nosso querido presidente
seresteiro.
Em História dos ciganos no Brasil, Rodrigo Corrêa
Teixeira1
(inédito) nos informa que, para o Brasil, vieram ciganos
ibéricos e não-ibéricos, ou seja, calom e rom
respectivamente. O rom2
que aqui chegou mais cedo teria sido Jan Nepomuscky
Kubitschek, que trabalhou como marceneiro no Serro e em
Diamantina. Casou-se com brasileira. Em seu matrimônio com
Teresa Maria de Jesus Aguilar, teve três filhos. O primeiro
foi João Nepomuceno Kubitschek, que viria a ser um destacado
político; o segundo, Carlos Kubitschek e o terceiro foi
Augusto Elias Kubitschek, um comerciante com escassos
recursos, que viveu toda sua existência em Diamantina;
casado com Maria Joaquina Coelho. Uma de suas filhas: Júlia
Kubitschek, casou-se com João César de Oliveira e foram os
pais de Juscelino Kubitschek3
(1902-1976), que depois se tornou presidente do Brasil. A
árvore genealógica de JK, até o bisavô, está no site
<http://diamantinanet.com.br>
O jornalista Luís Nassif, em artigo publicado pela Folha de
São Paulo, em 15 de setembro de 2002, assim se refere a JK:
"... Moreira Salles [embaixador e banqueiro] o considerava
um ‘cigano’, sem compromisso com idéias, partidos e grupos,
e bastante vulnerável a amizades pouco selecionadas".
O definitivo depoimento sobre a origem cigana de Juscelino
foi feito por João Pinheiro Neto (jornalista, ex-Ministro de
JK), às entrevistadoras: Aspásia Alcântara Camargo,
Helena Maria Bousquet Bomeny e Maria Luísa d’Almeida
Heilborn, para o Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), de onde extraí este texto ipsis
litteris:
Como o senhor definiria Israel Pinheiro? [Pergunta das
entrevistadoras].
"O Israel basicamente é um grande capitão de obras, um
grande construtor, um grande realizador, também sem nenhuma
preocupação de ordem ideológica. Um pragmático parecido com
o Juscelino em muitos pontos, menos na simpatia pessoal. Se
bem que quando o Israel queria também era simpático; mas o
Juscelino era sempre simpático. O Juscelino era um cigano.
Quando fui à Tchecoslováquia perguntei se havia Kubitschek
lá. Aliás, a D. Sara já tinha estado lá e visto no catálogo
que há centenas de Kubitschek. Ele era da Boêmia, daí gostar
de violão, de música, de dança, de mulher."
Mônica Buonfiglio, escritora, dá este depoimento, O
cigano Juscelino Kubitschek:
Juscelino Kubitschek nasceu a 12 de setembro de 1902, em
Diamantina (MG), era descendente de ciganos. O bisavô
materno de JK (tcheco cigano) desembarcou no Brasil em 1830.
O pai João César era caixeiro-viajante e morreu de
tuberculose quando ele tinha dois anos. Dona Júlia, sua mãe,
era professora primária, tratando de educar Nonô (apelido
usado em casa) de maneira rígida.
É uma pena que JK pouco se manifestou sobre o fato de ser
cigano (além dele, vários outros ciganos ocuparam posição de
destaque no Brasil, como Castro Alves, Cecília Meireles
entre outros). Embora não mencionada em sua biografia, esta
afirmação tem apoio de antropólogos, historiadores
brasileiros e europeus que se basearam em relatos orais de
amigos ciganos residentes em Contagem (MG). Juscelino só
falava sobre ciganos na presença de outros ciganos.
A Revista Gula
http://www.2.uol.com.br/gula/reportagens/119_lucinha.shtml
nos apresenta esta reportagem:
JK, o presidente bom de garfo:
Elegante, sorridente, pé-de-valsa, político brasileiro dos
anos dourados, era um amante fervoroso da comida. O marido
de dona Lucinha [a cozinheira de JK], ex-prefeito de Serro e
fã incondicional de JK, conhece cada detalhe da vida de seu
ídolo, incluídas datas, frases e personagens envolvidos nos
eventos. [...] “Ele era quase conterrâneo. Seu bisavô,
cigano, e seu avô, João Alemão, nasceram e viveram no
Serro”.
Em sequência, tenho em mãos um artigo publicado pelo Centro
de Cultura Cigana (CCC), em Juiz de Fora que diz em resumo:
"Com a palavra de abertura, o deputado espanhol Juan de Dios
Ramirez Herédia afirmou: Os políticos brasileiros, em
particular os de Minas Gerais, têm o dever de abraçar com
orgulho esta causa. Afinal o Brasil é o único país do mundo
que pode orgulhar-se de ter tido um Presidente da República
cigano: o mineiro Juscelino Kubitschek".
O artigo citado continua com esta afirmação peremptória:
"... a decisão de construir Brasília passou por uma
‘consulta’ debaixo de uma tenda cigana, no bairro de
Mesquita, a Lhuba Stanescon..."
Num artigo escrito por Zarco Fernandes, presidente do CCC,
em Juiz de Fora, ele finaliza o extenso trabalho com esta
frase que seria de JK e dita a amigos, em São Lourenço (MG),
em 25 de fevereiro de 1972:
"Tenho uma imensa tristeza muito dificilmente revelada: a de
nunca ter podido declarar-me cigano".
Mas Zarco (Marcos Fernandes), o presidente do CCC é
incansável; eis o que me enviou por e-mail:
" ... Quero concluir minha afirmativa (JK era cigano) com
uma citação contida no Jornal do Brasil de 7 de
dezembro de 2001. As páginas 4 e 5 do referido periódico,
trás matéria especial sobre a Academia Brasileira de Letras.
Com título POR QUE, AFINAL, A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
SEDUZ TANTA GENTE? Lemos: “A Academia já utilizou critérios
de bajulação do poder, quando elegeu o presidente Getúlio
Vargas, e também deixou de escolher outro — Juscelino
Kubitschek, então em desgraça com a ditadura militar,
preterido por um escritor puro-sangue, Bernardo Élis..."
Ainda em reforço à tese da ciganidade de JK, adiciona nosso
presidente do Centro de Cultura Cigana, em Juiz de Fora:
Na "Revista Manchete" no 2.085, de 21 de março de
1992, lemos nas páginas 66 a 71, reportagem de Claudia Lobo
(Rio), Durval Ferreira (São Paulo) e Marcos Achiles
(Brasília), matéria sobre os ciganos e sua participação no
carnaval daquele ano, no qual a escola de samba UNIDOS DO
VIRADOURO homenageou o presidente JK, com o enredo "...e
a magia da sorte chegou. Composição: Heraldo Faria,
Flavinho Machado e Gelson Rubinho, (transcrição a seguir).
Em determinado trecho da reportagem lemos: O enredo
serviu para mostrar aos gajões que o Brasil já teve um
presidente da Republica cigano."
Uma estrela brilhou
Brilhou, brilhou, brilhou
Tão cintilante que os magos iluminou.
Será o novo sol da amanhã? Do amanhã.
O arco-íris da aliança que não se apagará
Vem do Oriente com sua arte de criar,
Na palma da mão lê a sorte
Com a magia do seu olhar.
Chegando ao velho continente
Á marca da desilusão,
Castigo, degredo, açoite,
Por que tanta discriminação?
A cada passo, a poeira levanta do chão.
Ferreiro, feiticeiro, bandoleiro.
A liberdade é sua religião
E vem chegando o dono desse chão.
No berço, a mão do menino
Abriu-se ao destino, eis a nova Canaã
Ê, ê, cigano, bandeirante em busca de cristais
Canta, dança, representa
Da vida a nossos laços culturais.
Cigano-rei, mineiro iluminado
O mundo não vai esquecer,
Plantou no solo brasileiro
A realização do amanhecer
É uma Nova Era, ô, ô, a magia da sorte chegou
O sol brilhará,
Surge a estrela-guia
E sob a proteção da lua
Canta Viradouro,
Que a sorte é sua.
À Jordana Aristich, cigana, divulgadora da cultura
cigana, lhe perguntaram:
O ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha mesmo
descendência cigana?
Jordana — Sim, pena que não esteja vivo para ele mesmo
manifestar-se a respeito.
A revista Planeta, no 216, de setembro de 1990, p. 24,
publica o artigo Ciganos, um povo na encruzilhada
de autoria do jornalista Romeu Graziano, quando ele cita
ipsis litteris:
"... na galeria de ciganos ilustres encontramos o presidente
Juscelino Kubitschek"...
A notícia publicada no
http://democracia.com.br/participe/partnoticias.asp?t=4&nop=407
espelha este texto:
Presidente do Senado visita a República Checa.
25/3 – EFE O Presidente do Senado do Brasil, Ramez Tebet,
visita hoje, segunda-feira, a República Checa durante uma
viagem à Europa [....] Sobre as relações entre os dois
países, Pithart lembrou os anos de 1956 a 1961, quando
Juscelino Kubitschek era presidente do Brasil. Ele, que
nasceu na cidade checa de Trebon, na Boêmia do sul, emigrou
para o país latino-americano. [Obs.: A família de JK emigrou
de Trebon para Diamantina]
Cristina da Costa Pereira, professora de literatura e
escritora, em entrevista à Revista Planeta, no 174, março de
1987, p. 14, intitulada Ciganos, os ladrões de almas, falou
ao repórter:
Imagine, Kubitschek era cigano, filho de mãe cigana,
descendente de tchecos; o lado paterno não era. Lendo
notícias de jornais da época, achei declarações reveladoras
do próprio ex-presidente e o vi como padrinho de casamento
de vários grupos ciganos.
Lemos no site de Carta Capital
http://www.cartacapital.com.br/edicoes/2005/07/350/2415/
"JK teve de omitir que era [cigano], senão não seria
presidente. Nunca fez nada por nós, também porque não fomos
pedir", diz Iovanovitch. "Os ciganos de Inconfidentes, em
Contagem, preservam o relato oral de visitas de JK às
comunidades. Ele tinha origem cigana, relacionava-se com
eles".
Por último, mas não menos importante, transcrevo parte uma
entrevista publicada na Revista de História, da
Biblioteca Nacional, ano 2, no14, p. 35, sob o título
Plano Nacional de Cultura para os ciganos:
Pergunta:
RH (Revista de História). Há discriminação contra os
ciganos?
GV (Geraldo Vitor da Silva Filho, da Secretaria da
Identidade e da Diversidade Cultural e coordenador do Grupo
de Trabalho para as Culturas Ciganas). "Há, e bastante. Isto
vem da época da Inquisição quando a igreja passou a
condená-los pelas práticas esotéricas que eles exerciam,
como a leitura de mão. A partir daí surgiu uma série de
mitos infundados, como os que dizem que ciganos raptam
crianças ou vendem cavalos cegos. Para vocês terem uma
idéia, até 1998 o Dicionário Aurélio colocava a palavra
'cigano' como sinônimo de 'trapaceiro'. E isso se faz sentir
até hoje. JK era neto de ciganos, e Márcia Kubitschek
proibiu que isso fosse citado na minissérie recente feita
pela Rede Globo...".
Finalmente, a falta de indícios veementes é paradoxalmente
uma grande prova da origem cigana de JK,
pois nós, simples mortais, sabemos perfeitamente quais foram
nossos bisavôs e com alguma pesquisa sabemos dos nossos
trisavôs ou tataravôs e podemos ir mais longe e conhecer
alguns tetravôs. Com é que pode um estadista, como foi JK,
estabilizar genealogia nos seus bisavôs? É uma densa cortina
que precisa ser descerrada. E será, mais cedo ou mais tarde!
Assim, termina-se esta pesquisa sobre a origem de JK. Jamais
serão apresentadas certidões de batismo de seus
antepassados, pressupondo que eram realmente ciganos, porque
este povo não costuma registrar seus filhos em cartórios.
Temos que nos louvar nesses depoimentos e tê-los como
parcialmente verdadeiros, até prova em contrário. Não
podemos ter estes depoimentos como verdadeiros in totum,
mas também não vamos descartá-los como inverídicos. E aqui
fica um desafio para pesquisadores e historiadores: Que se
aprofundem na genealogia de JK e nos dêem um parecer
definitivo. Até então, vamos ter JK como nosso irmão cigano,
com muita honra.
Legado de JK ao povo: Alegria, esperança, otimismo,
auto-estima, orgulho de ser brasileiro, visão do futuro e
liberdade.
Realizações de JK: Universidades,
indústrias (automotiva, naval, siderurgia etc.), estradas,
represas, hidroelétricas, Brasília; em suma: desenvolvimento
e progresso.
"Ninguém pode ter outro interesse se não o de que se
consolide o regime de liberdade, sem o qual não há nação que
possa qualificar-se de civilizada." JK
Asséde Paiva
Rev. Acir Reis
1
Graduado em Geografia, pós-graduado
em História.
2
Assim os ciganos querem ser chamados.
3
Médico, deputado federal, prefeito de
Belo Horizonte e Presidente da República. Mais sobre JK está
em
<
www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/depoimentos/Joao_Pinheiro_Neto>
<
www.nepomuceno.locaweb.com.br/historia.php >
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